A entrada no século XXI constituirá sem dúvida um marco histórico na evolução ciência. O Projeto do Genoma Humano (PGH), iniciado em 1990 como um esforço cooperativo internacional, tinha como objetivos a sequenciação completa de todo o genoma humano (cerca de 3,2 biliões de nucleótidos), a identificação dos genes e dos produtos por estes codificados, assim como a identificação da sua função, associação com patologias específicas e interacções com factores ambientais.
Em Fevereiro de 2001 foi publicada a sequenciação inicial do genoma humano, com artigos na Nature e na Science, tendo a sua publicação definitiva ocorrido em 2004. O sucesso obtido no PGH, aliado a poderosas ferramentas de biologia molecular, impulsiona agora uma nova era na medicina e na nutrição.
A informação revelada pela sequenciação do genoma humano está favorescendo a criação de novas oportunidades de compreensão de como responde o ser humano aos estímulos provenientes do ambiente. Alguns dos dados obtidos, revelaram que os polimorfismos genéticos, fonte de variação interindividual, são fundamentais na resposta metabólica ao ambiente e permitiram--nos questionar até que ponto podemos identificar subgrupos populacionais e que marcadores genéticos poderão aumentar os seus benefícios ou riscos com uma determinada ingestão de um determinado nutrimento.
Apesar dos nutrientes influenciarem o desenvolvimento do ser humano e a evolução para determinados fenótipos, e, como se sabe, este mecanismo difere de indivíduo para indivíduo, o inverso também deve ser considerado. Isto é, o genótipo individual pode determinar a resposta a um determinado nutriente ou componente alimentar. Esta nova era emergente, a Nutrição Molecular, ou seja, as interações gene-nutriente, é, portanto, complexa e bidirecional.
A genômica representa um conceito amplo e vasto, que inclui o estudo dos genes, relativamente à sua estrutura, função, regulação e interação com fatores ambientais. Uma das primeiras definições, publicadas na literatura científica, para o termo «genômica nutricional» foi proposta por DellaPenna, em 1999, mas muitas surgiram desde então, não fosse esta uma nova área de conhecimento científico (– glossário de termos relacionados com genómica nutricional no final do texto).
A genômica nutricional pode ser considerada como a combinação entre a nutrição molecular e a genômica, um conceito que abarca a nutrigenômica e a nutrigenética. Segundo Ordovas et al., a nutrigenômica considera «os estudos de interação funcional dos alimentos e dos seus componentes com o genoma, ao nível molecular, celular e sistêmico». A finalidade da nutrigenômica é auxiliar a prevenção e o tratamento de doenças através da alimentação.
A nutrigenética considera os efeitos da variação genética individual na resposta aos nutrientes ou à alimentação e oferece a promessa de uma «nutrição personalizada» segundo a constituição genética do indivíduo, baseada no conhecimento das variações do metabolismo dos nutrientes sobre os genes. A expectativa subjacente à nutrigenômica e à nutrigenética é que será identificada e validada uma grande variedade de genes cuja expressão possa ser modificada por componentes alimentares – nutrientes ou não –, a fim de serem incorporados em estratégias nutricionais que visem optimizar a saúde e prevenir a doença. Entre as várias doenças que poderão beneficiar com os avanços desta área, destacam-se a obesidade, o cancro, as doenças cardiovasculares, a osteoporose, a diabetes e várias outras doenças inflamatórias crónicas.
É, portanto, baseado na concretização destas expectativas que surge o conceito de «nutrição inteligente», ou seja, o conhecimento do estado nutricional, das necessidades nutricionais e do genótipo individual, que prometem revolucionar não só as ciências da nutrição, mas todas as áreas ligadas às ciências da saúde.
Os nutricionistas têm agora uma oportunidade especial e única para redefinir o seu papel nos cuidados e no sistema de saúde. Neste contexto, o nutricionista poderá assumir o papel de conselheiro, para o que lhe será exigida uma nova formação e a correspondente responsabilidade. Os profissionais que reunirem as características descritas serão, certamente, os mais procurados.
Bibliografia:
1 – DeBusk RM. Introduction to nutritional genomics. In: Mahan LK, Escott-Stump S, editors. Krause´s Food, Nutrition & Diet Therapy. 11th ed. Philadelphia: Saunders; 2004. p.390-406.
2 – Lander ES et al. Initial sequencing and analysis of the human genome. Nature 2001; 409 (6822): 860-921.
3 – Venter JC et al. The sequence of the human genome. Science. 2001; 291 (5507): 1304-1351.
4 – International Human Genome Sequencing Consortium. Finishing the euchromatic sequence of the human genome. Nature 2004;431 (7011): 931-945.
5 – Gillies PJ. Nutrigenomics: the rubicon of molecular nutrition. J Am Diet Assoc 2003; 103(12 suppl 2):S50-S55.
6 – DellaPenna D. Nutritional Genomics: manipulating plant micronutrients to improve human health. Science 1999; 285: 375-379.
7 – Elliot R, Ong TJ. Nutritional genomics. BMJ 2002; 324:1438-1442.
8 – Trayhurn P. Nutritional genomics – “Nutrigenomics”. Br J Nutr 2003; 89:1-2.
9 – Chadwick R. Nutrigenomics, individualism and public health. Proc Nutr Soc 2004; 63(1):161-166.
10 – Ordovas JM, Corella D. Nutritional genomics. Annu Rev Genomics Hum Genet 2004; 5:71-118.
11 – DeBusk RM, et al. Nutritional genomics in practice: where do we begin? J Am Diet Assoc 2005; 105 (4): 589-598.
Em Fevereiro de 2001 foi publicada a sequenciação inicial do genoma humano, com artigos na Nature e na Science, tendo a sua publicação definitiva ocorrido em 2004. O sucesso obtido no PGH, aliado a poderosas ferramentas de biologia molecular, impulsiona agora uma nova era na medicina e na nutrição.
A informação revelada pela sequenciação do genoma humano está favorescendo a criação de novas oportunidades de compreensão de como responde o ser humano aos estímulos provenientes do ambiente. Alguns dos dados obtidos, revelaram que os polimorfismos genéticos, fonte de variação interindividual, são fundamentais na resposta metabólica ao ambiente e permitiram--nos questionar até que ponto podemos identificar subgrupos populacionais e que marcadores genéticos poderão aumentar os seus benefícios ou riscos com uma determinada ingestão de um determinado nutrimento.
Apesar dos nutrientes influenciarem o desenvolvimento do ser humano e a evolução para determinados fenótipos, e, como se sabe, este mecanismo difere de indivíduo para indivíduo, o inverso também deve ser considerado. Isto é, o genótipo individual pode determinar a resposta a um determinado nutriente ou componente alimentar. Esta nova era emergente, a Nutrição Molecular, ou seja, as interações gene-nutriente, é, portanto, complexa e bidirecional.
A genômica representa um conceito amplo e vasto, que inclui o estudo dos genes, relativamente à sua estrutura, função, regulação e interação com fatores ambientais. Uma das primeiras definições, publicadas na literatura científica, para o termo «genômica nutricional» foi proposta por DellaPenna, em 1999, mas muitas surgiram desde então, não fosse esta uma nova área de conhecimento científico (– glossário de termos relacionados com genómica nutricional no final do texto).
A genômica nutricional pode ser considerada como a combinação entre a nutrição molecular e a genômica, um conceito que abarca a nutrigenômica e a nutrigenética. Segundo Ordovas et al., a nutrigenômica considera «os estudos de interação funcional dos alimentos e dos seus componentes com o genoma, ao nível molecular, celular e sistêmico». A finalidade da nutrigenômica é auxiliar a prevenção e o tratamento de doenças através da alimentação.
A nutrigenética considera os efeitos da variação genética individual na resposta aos nutrientes ou à alimentação e oferece a promessa de uma «nutrição personalizada» segundo a constituição genética do indivíduo, baseada no conhecimento das variações do metabolismo dos nutrientes sobre os genes. A expectativa subjacente à nutrigenômica e à nutrigenética é que será identificada e validada uma grande variedade de genes cuja expressão possa ser modificada por componentes alimentares – nutrientes ou não –, a fim de serem incorporados em estratégias nutricionais que visem optimizar a saúde e prevenir a doença. Entre as várias doenças que poderão beneficiar com os avanços desta área, destacam-se a obesidade, o cancro, as doenças cardiovasculares, a osteoporose, a diabetes e várias outras doenças inflamatórias crónicas.
É, portanto, baseado na concretização destas expectativas que surge o conceito de «nutrição inteligente», ou seja, o conhecimento do estado nutricional, das necessidades nutricionais e do genótipo individual, que prometem revolucionar não só as ciências da nutrição, mas todas as áreas ligadas às ciências da saúde.
Os nutricionistas têm agora uma oportunidade especial e única para redefinir o seu papel nos cuidados e no sistema de saúde. Neste contexto, o nutricionista poderá assumir o papel de conselheiro, para o que lhe será exigida uma nova formação e a correspondente responsabilidade. Os profissionais que reunirem as características descritas serão, certamente, os mais procurados.
Bibliografia:
1 – DeBusk RM. Introduction to nutritional genomics. In: Mahan LK, Escott-Stump S, editors. Krause´s Food, Nutrition & Diet Therapy. 11th ed. Philadelphia: Saunders; 2004. p.390-406.
2 – Lander ES et al. Initial sequencing and analysis of the human genome. Nature 2001; 409 (6822): 860-921.
3 – Venter JC et al. The sequence of the human genome. Science. 2001; 291 (5507): 1304-1351.
4 – International Human Genome Sequencing Consortium. Finishing the euchromatic sequence of the human genome. Nature 2004;431 (7011): 931-945.
5 – Gillies PJ. Nutrigenomics: the rubicon of molecular nutrition. J Am Diet Assoc 2003; 103(12 suppl 2):S50-S55.
6 – DellaPenna D. Nutritional Genomics: manipulating plant micronutrients to improve human health. Science 1999; 285: 375-379.
7 – Elliot R, Ong TJ. Nutritional genomics. BMJ 2002; 324:1438-1442.
8 – Trayhurn P. Nutritional genomics – “Nutrigenomics”. Br J Nutr 2003; 89:1-2.
9 – Chadwick R. Nutrigenomics, individualism and public health. Proc Nutr Soc 2004; 63(1):161-166.
10 – Ordovas JM, Corella D. Nutritional genomics. Annu Rev Genomics Hum Genet 2004; 5:71-118.
11 – DeBusk RM, et al. Nutritional genomics in practice: where do we begin? J Am Diet Assoc 2005; 105 (4): 589-598.
Glossário
Alelo – uma das cópias de um gene. Em organismos diplóides (ex. humanos), cada indivíduo possui dois alelos para cada gene.
Fenótipo – a expressão de um gene.
Gene – segmento do ADN que normalmente contém a informação necessária para a produção de uma proteína ou ARN.
Genoma – a totalidade da informação genética de um organismo ou célula.
Genótipo – referente à constituição genética de um indivíduo.
Locus/Loci – representação abstracta de um gene ou marcador num cromossoma.
Mutação – uma alteração da sequência de nucleótidos no ADN.
Nucleotídeo – unidade que constitui o ADN e o ARN. Normalmente referida pelas letras ATCG para ADN e AUCG para ARN.
Polimorfismo – variante de um gene que ocorre na população numa frequência superior a 1%.
Proteómica – estudo da estrutura e função das proteínas que podem ser expressas num organismo.
Alelo – uma das cópias de um gene. Em organismos diplóides (ex. humanos), cada indivíduo possui dois alelos para cada gene.
Fenótipo – a expressão de um gene.
Gene – segmento do ADN que normalmente contém a informação necessária para a produção de uma proteína ou ARN.
Genoma – a totalidade da informação genética de um organismo ou célula.
Genótipo – referente à constituição genética de um indivíduo.
Locus/Loci – representação abstracta de um gene ou marcador num cromossoma.
Mutação – uma alteração da sequência de nucleótidos no ADN.
Nucleotídeo – unidade que constitui o ADN e o ARN. Normalmente referida pelas letras ATCG para ADN e AUCG para ARN.
Polimorfismo – variante de um gene que ocorre na população numa frequência superior a 1%.
Proteómica – estudo da estrutura e função das proteínas que podem ser expressas num organismo.
- FONTE: Jornal da Sociedade Portuguesa de Ciências da Nutrição e Alimentação 2007
- AUTORES: Dr. Fábio Pereira* e Prof.ª Doutora Maria Daniel Vaz de Almeida **
*Nutricionista, Instituto de Investigaciones Biomédicas «Alberto Sols», Universidad Autónoma de Madrid
**Nutricionista, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto